segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

CURADORIA EM PROCESSO, por Marcelo Ikeda


A BALADA DO PROVISÓRIO
O filme tem uma proposta bem interessante, de dialogar com um cinema brasileiro popular, ainda que sofisticado. Vê o seu protagonista marginal de uma forma delicada e elegante. Curiosamente elegante. Uma crônica de costumes carioca permeada de "causos". Viver a vida. Por outro lado, o filme poderia ser um pouco mais radical, ou um pouco mais subversivo em como olha esse universo. Parece limpinho e correto demais para o universo que se propõe a olhar.

A CÂMERA E O CLOSE, ELE E O CÉU, VOCÊ O OLHA E ELE ADMIRA O VÉU
O filme possui uma proposta de estudo de linguagem e de decupagem bem interessante e bastante radical. Um filme sobre a solidão do seu protagonista, e que no final assume um contorno estranhíssimo, fugindo do personagem e ficando no espaço, nas árovres, na chuva. Bastante radical. O filme me interessou bastante na proposta de um cinema caseiro, precário, de um personagem em casa lutando contra a solidão. No entanto, em não poucos momentos, parece redundante, tendo uma dificuldade de desenvolvimento. Acaba soando mais como um exercício do que como um filme pronto. Fico aguardando que o diretor prossiga nas suas experimentações com curtas que com certeza trará um trabalho mais maduro nas próximas edições da MFL!!!!!

A FLORESTA DE JONATHAS
Apesar de assumidamente narrativo, o filme possui uma interessante dobra um pouco depois da sua metade, quando o protagonista mergulha na floresta e é "contaminado" pelo seu espírito. Aí, o filme me parece influenciado por coisas do cinema contemporâneo, como Apichatpong e Kawase. Ainda que a primeira metade tenha um ranço narrativo, uma dificuldade de dar ritmo e de nos envolver ocm o espaço e com os personagens, e que na segunda parte o filme tenha alguns cacoetes dessa proposta mais "sensorial", acredito que o filme se encaixa bem na proposta curatorial da MFL, por como apresenta uma Amazônia entre os habitantes e os gringos sem estereótipos desse contato, como a mística local entra na tessitura do próprio filme, e por alguns momentos que mostram o potencial do diretor em nos surpreender.

A VISITA DO REI
O doc tem uma premissa interessante, mas a desonvolve de uma forma excessivamente convencional, tornando-o arrastado, um tanto redundante dada a sua duração, perdendo a sua força. NÃO EXISTE CINEMA REVOLUCIONÁRIO COM FORMATO REACIONÁRIO!

AS HORAS VULGARES
Apesar de excessivamente devoto do cinema do Garrel (não premiamos por isso, pois achamos que os artistas devem encontrar seu próprio caminho num sentido edipiano, matando os seus pais para viver a sua própria vida), são muito claros vários méritos do filme, especialmente uma forma humana e delicada em abraçar a fragilidade de seus personagens, e na forma franca e frontal como encena os diálogos e faz os atores interagirem, qualidade rara no cinema brasileiro contemporâneo, em especial os de baixo orçamento.

ATÉ QUE A VIDA NOS SEPARE
O diretor tenta homenagear Fassbinder, mas acaba fazendo um dramalhão bem intencionado aos moldes de uma novela da Record. Ou seja, o oposto do que propunha Fassbinder. Não possui nem o impacto subversivo nem a fina ironia do diretor alemão.

ATRIZES
Muito interessante a proposta do filme. Planos longos, metacinema. Um rigor no camarim; um trabalho com os atores. Achei em alguns momentos os diálogos irregulares lá pelo meio do filme, quando o filme tem uma dificuldade de se sustentar, mas o filme é uma aposta radical, que merece ser valorizada.

BELO MONTE. ANÚNCIO DE UMA GUERRA
o filme é bem interessante, importante e realizado com cuidado. Tem um modelo de financiamento alternativo e criativo bem interessante. Explora uma questão (sobre Belo Monte) extremamente relevante. No entanto, o filme possui uma linguagem jornalística, reduzindo o impacto de sua discussão pelo didatismo do desenvolvimento do tema. Ainda, ele já está disponivel na internet (ótima iniciativa), e já tem um espaço de divulgação através das redes sociais, sendo bem conhecido (há 161mil acessos). Optamos por selecionar filmes menos vistos, que a MFL poderá contribuir mais para a sua difusão.

CAOS SEM TEORIA
o filme tem alguns momentos interessantes e surpreendentes (ex, um cavalo correndo na praia). Mas no final fica a sensação de uma certa superficialidade, e de uma enorme dificuldade narrativa em como o filme apresenta o universo dos seus personagens (o taxista e a mulher). Possui um olhar muito frouxo, pouco rigoroso, que acaba dissipando o que poderia ser de mais interessante no filme.

CARTAS PARA ANGOLA
O filme tem momentos potentes quando se concentra nessas relações afetivas mas quando procura mostrar mais “do que se trata Angola” ele perde seu interesse. Prefiro o que faz Ulrich Kohler em A Doença do Sono, quando mostra a dificuldade do contato do europeu com o africano, e reafirma que a África é um mistério. O filme é delicado mas com o tempo vai diluindo seu interesse, com diálogos um tanto superficiais e escapistas. Exemplo típico é a companhia de arte angolana com dizeres em inglês nas paredes e o conjunto de samba em Campinas que se apresenta num barzinho de classe média alta. Passagens como essa mostram um certo viés do filme no olhar para esses universos, que dilui a potência política desses encontros. Acaba que o filme não gera um desconforto: tudo é bonito, correto, no lugar demais.

CINE HOLLIÚDY
Apesar de a versão curta ter ganhado um prêmio numa versão anterior da MFL, achamos que a versão longa acaba caindo em clichês nos persoanagens nordestinos, soando por demais caricatos. O humor também não funciona, por conta da aposta do diretor num "cearencês" muito carregado que precisa de legendas, dificultando a comunicação com o público. A primeira parte do filme (20min) possui também muita dificuldade de imprimir um ritmo ao filme, afastando o espectador do filme. O melhor momento é de fato a apresentação no cinema, mas achamos que no curta, essa situação se apresentava melhor, seja nas opções de decupagem, seja mesmo em sua realização técnica. O filme possui uma proposta de um cinema de comunicação popular de apelo fácil que dialoga com o ingênuo, possuindo poucos atrativos políticos/subversivos que nos levem a questionar um modo de estar no (olhar o )mundo, que é o principal interesse da curadoria da MFL.

CONSTRUÇÃO
Ficamos na dúvida sobre esse filme. Ele possui claramente méritos, em como apresenta um olhar delicado para o documentário, medidado pelo olhar da própria realizadora, entre seu pai e sua filha. Um documentário não didático. No entanto, o filme acaba não desenvolvendo a contento suas premissas, por uma dificuldade da montagem estabelecer relações entre os dois momentos, entre os dois espaços, entre os dois personagens. Apesar da ótima premissa, sentimos que o filme não alcança voos mais largos em estabelecer uma ponte entre a história individual da realizadora e de sua família com uma proposta mais ampla de cinema (o mundo, a história, etc).

ESSA MALDITA VONTADE DE SER PÁSSARO
Há um certo desejo por uma narrativa mais fluida que tem um certo interesse mas o filme é ingênuo demais na forma como desenvolve suas premissas, tornando-se desinteressante à medida que avança, não conseguindo força nem na narrativa nem nos personagens. Cheio de boas intenções, sua suposta poesia acaba resvalando no clichê. E, por favor, não tem nada de nouvelle vague!!!!

INDUBTÁVEL-REGGAE DOCUMENTO
Apesar de o tema ser interessante, é desenvolvido de forma pouco criativa, muito centrado em depoimentos e muito no padrão do informativo. NÃO EXISTE CINEMA REVOLUCIONÁRIO COM FORMATO REACIONÁRIO!

JOIA DE COPACABANA
Apesar de o tema ser interessante, é desenvolvido de forma pouco criativa, muito centrado em entrevistas com "autoridades" muito quadradas. Muito no padrão do informativo. NÃO EXISTE CINEMA REVOLUCIONÁRIO COM FORMATO REACIONÁRIO!

LUCIFER
O filme possui méritos que chamaram nossa atenção, pela sua radicalidade, pelo tratamento formal cru, por como o diretor nos envolve num universo mí(s)tico. Um filme singular, com um olhar próprio. No entanto, o seu potencial sinestético e subversivo acaba sendo diluído por uma duração excessiva e pelo pouco rigor da montagem, que prejudica o filme.

MARCAS DAS RUAS 2
Apesar de o tema ser bem interessante e das imagens gravados e depoimentos terem um valor de autenticidade (o tema é exposto de uma forma frontal, direta), é desenvolvido de forma pouco criativa, muito centrado em depoimentos blocados. Muito no padrão do informativo. Acaba se tornando redundante e repetitivo, pois é blocado em entrevistas/pessoas pichando. O maior mérito do filme é mostrar as pessoas pichando, mas aprofunda pouco, acaba se repetindo. Poderia ser mais criativo em como organiza o material gravado. NÃO EXISTE CINEMA REVOLUCIONÁRIO COM FORMATO REACIONÁRIO!



MARGARET MEE E A FLOR DA LUA
Apesar da relevância do tema e da beleza da realização, com pesquisa bem cuidada e lindas imagens, o filme é formatado de uma forma muito convencional, parecendo um produto para televisão internacional, fugindo dos objetivos dessa curadoria, que são filmes libertários que contestem os padrões estabelecidos. NÃO EXISTE CINEMA REVOLUCIONÁRIO COM FORMATO REACIONÁRIO!

NAS MINHAS MÃOS EU NÃO QUERO PREGOS
Apesar de o protagonista ser interessante, e o filme ter uma estratégia interessante de mostrá-lo apenas ao final, seu desenvolvimento é excessivamente centrado em entrevistas que, depois de uns 20min, parecem redundantes, parecendo faltar força e até mesmo material para sustentar a duração do filme, que vai perdendo a sua força, que só volta nos minutos finais. Ficamos com vontade de o filme ficar mais em seu objeto, especialmente na casa, ou no seu processo de criação, mas acaba que o "mistério" de dar a ver seu protagonista se revela mais uma estratégia narrativa do que um princípio ético/estético do filme. Uma pena, pois a MFL gosta bastante dos trabalhos anteriores da diretora, exibidos em outras edições da mostra. Mas esses nos pareceram mais subversivos e criativos esteticamente.

NO FUNDO NEM TUDO É MEMÓRIA
O grande mérito do filme é o belo trabalho com a luz, com um paralelo com o próprio processo de apagamento de uma memória. No entanto, os depoimentos são muito pouco interessantes, e passados 20min de filme, parecem abolutamente redundantes. O que no início parece fruto de um grande rigor formal acaba virando uma camisa-de-força que impede que o filme alcance voos mais altos.

O CABRABODE
Filme trash. Filme realizado de forma grotesca, mas que não usa o grotesco de forma criativa, como forma subversiva de atacar os padrões do "bom gosto" (como alguns filmes de Baiestorff ou Gurcius, entre outros, fazem, por exemplo). Fica parecendo que é grotesco apenas porque o diretor não conhece/domina as regras do "bem feito" e não como opção estética radical assumida como desvio.

OUVIR O RIO : UMA ESCULTURA SONORA DE CILDO MEIRELES
O filme vale mais por testemunhar o incrível processo de trabalho do Cildo Meireles do que propriamente pelo filme. No final ficamos com a sensação de que a diretora perdeu uma enorme oportunidade de fazer um grande filme, mas acabou muito presa a registrar um acontecimento, e não em fazer o espectador mergulhar na essência do trabalho do artista. O filme é conmvencional e tímido demais para buscar se aproximar de um processo tão rico e complexo quanto o trabalho do Cildo. De qualquer forma, o filme tem esse valor de pelo menos nos dar algumas imagens e sons sobre o processo. Mas é pouco em relação á potência da obra do seu objeto. Ficamos em dúvida em exibir, pois seria uma chance de o público conhecer um pouco mais o trabalho do Cildo.

PARA O ALTO
Apesar de o tema ser interessante, é desenvolvido de forma pouco criativa, não problematizando seu objeto de estudo. Muito no padrão do informativo. NÃO EXISTE CINEMA REVOLUCIONÁRIO COM FORMATO REACIONÁRIO!

PASTINHA! UMA VIDA PELA CAPOEIRA
Apesar de o tema ser interessante, é desenvolvido de forma pouco criativa, muito centrado em entrevistas com "autoridades" muito quadradas. Muito no padrão do informativo. NÃO EXISTE CINEMA REVOLUCIONÁRIO COM FORMATO REACIONÁRIO!

PAU BRASIL
O grande mérito de PAU BRASIL é mostrar como convivem lado a lado no Brasil, especialmente no Nordeste, e especialmente na Bahia, o mais profundo conservadorismo e o mais profundo espírito subversivo. As contradições no corpo, na política, na alma. O problema é que o filme desenvolve isso de maneira que poderia ser mais potente, e se revela muito preocupado com um bom gosto e com um modo de produção correto, que acaba diluindo um pouco o poder subversivo do filme.

PROFISSÃO DRAG QUEEN
O filme não aprofunda a investigação do universo do transformismo, permanecendo superficial. Na forma, apenas uma sucessão de entrevistas pouco interessantes. Apesar de o tema ser livre, é desenvolvido de forma pouco criativa. NÃO EXISTE CINEMA REVOLUCIONÁRIO COM FORMATO REACIONÁRIO!

REGGAE NA ESTRADA
Está mais para um programa de TV sobre um personagem - vocalista do Cidade Negra - do que verdadeiramente um documentário. Apesar de o tema ser interessante, é desenvolvido de forma pouco criativa. NÃO EXISTE CINEMA REVOLUCIONÁRIO COM FORMATO REACIONÁRIO!

REPUBLICA
O filme busca desenvolver uma dramaturgia narrativa repleta de personagens e de diálogos, uma coisa em falta no atual cinema independente brasileiro. No entanto, o filme revela um olhar extremamente superficial e caricato sobre a vida dos estudantes e sobre morar junto, o qual recusamos. Está mais para piloto de série de TV.

RUA DOS BOBOS
O média busca um equilíbrio entre o cinema realista e o não-realista, mas não consegue desenvolver seu argumento, pela ingenuidade como a direção lida com os aspectos de linguagem e narrativos, tornando o filme arrastado, redundante e previsível.

TEUS OLHOS MEUS
O filme tem momentos interessantes, pelo despojamento do seu protagonista, pelo desejo de narrativa do filme e pelo final que busca uma reviravolta surpreendente. No entanto, acaba virando um enorme dramalhão, mais próximo de uma novela da Record do que do bom cinema, muito menos de um cinema livre. O filme dilui seu impacto subversivo por uma estética que no fundo é reacionária.

TRUKS
O filme não problematiza seu objeto - o grupo teatral. Apenas, de forma descritiva, conta sua história e seus feitos. Ou seja, está mais para um institucional sobre o grupo do que um documentário. Não se encaixa na proposta da MFL.



VOU RIFAR MEU CORAÇÃO
Gostamos do filme. Sua não seleção acaba sendo mais por critérios políticos do que estéticos. Sentimos que o filme já tem o seu espaço, tendo sido inclusive lançado comercialmente com um público acima de 10mil espectadores, o que, infelizmente, é exceção dentro do cenário comercial brasileiro. Por isso, optamos, dado o limitado espaço da grade de programação, em exibir filmes menos vistos, que o público teria muito mais dificuldade para ter acesso, já que essa é uma aposta muito central da MFL. Embora o filme tenha méritos e nos interesse, e é pouco visto pois o cinema brasileiro em geral é infelizmente pouco visto, acabamos dando prioridade a outros filmes que possuem ainda muito menos possibilidade de serem vistos.



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