terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Filme Livre: uma curadoria em processo - prólogo


Filme Livre: uma curadoria em processo
“I. Que espécie de esperança tem no amor?
L. Se amo, toda esperança. Se não amo, nenhuma.”
Luis Buñuel (Inquérito surrealista)

Após 10 anos de curadoria da Mostra do Filme Livre(MFL), pensei em criar algo novo, considerando uma lacuna entre a realização e curadoria (lembrando que todos os curadores da MFL são também realizadores de cinema e vídeo), e uma ausência de textos críticos, no sentido de apontar não apenas os melhores filmes vistos, mas algo nunca feito antes, tentar dar um retorno, criar resenhas, textos que de alguma forma procurem traduzir o que pensei e senti em cada filme, cada trabalho de longa ou média metragem enviado para seleção na mostra de 2013.  Um dos critérios foi a escrita automática, buscando dar transparência as idéias e coisas sentidas em tempo real, ao ver e as vezes rever os  filmes. Palavra, som,  imagem e  montagem. E, claro, a busca de uma livre articulação entre tema/forma/andamento/conclusão(não estou muito certo deste último). Talvez aí esteja uma das chaves: a MFL é uma das poucas mostras de cinema no Brasil que tentam valorizar o filme pela sua busca, não necessariamente por sua conclusão, pela obra acabada. Por isso nunca fizemos questão de anunciar prêmio técnicos (melhor montagem, melhor fotografia, etc). A tecnocracia da dita indústria criativa aqui não tem vez. É claro que é um desejo utópico: mesmo que conseguíssemos traduzir os pensamentos de todos os filmes, de desconhecidos (a grande maioria), conhecidos, amigos e inimigos da área (ou melhor seria dizer: do campo de batalha), sempre faltaria algo a decifrar; algum pensamento perdido em forma de poesia ou metáfora, sonhos e delírios, fantasias , enfim, o que estava a fim de escancarar / transbordar em escrita automática é uma conversa aberta com os realizadores de todos os filmes inscritos. Enfim, publicar abertamente idéias sobre filmes, adivinhações e leituras,  não como uma prestação de contas burocrática, no sentido de pontuar e avaliar como “bons” ou “ruins” este ou aquele filme, mas  abrir um espaço de diálogo entre a curadoria da mostra e os diretores dos filmes.  Este pensamento surge a partir da constatação de que vivemos um momento de “êxtase” dos editais (públicos ou privados) e o boom dos festivais de cinema, mas que no entanto, temos muito pouco diálogo entre curadores e/ ou comitês de seleção com os cineastas/proponentes.  Vale acrescentar: diálogo não como politicagem/conchavos/lobbys/formação de quadrilha (dependendo da quadrilha acho até válido), mas diálogo como espaço de liberdade de opinião. E se ao mesmo tempo a escolha dos filmes passa por razões subjetivas penso que de certa forma faz parte do trabalho do curador refletir sobre o processo de criação de cada obra (e quando possível, publicar estas idéias), independente da seleção ou exclusão dos trabalhos em qualquer mostra ou exibição pública.
Realizadores e produtores de filmes que acreditam na Mostra do Filme Livre (a ponto de inscreverem seus filmes e acreditarem na sua direção e curadoria) sintam-se privilegiados:  penso que este é o primeiro festival (digo, mostra) de filmes no Brasil que está abrindo este diálogo. 
Vale lembrar que, antes de tudo, que a MFL é uma Mostra com licença poética.
Chico Serra
PS. As resenhas e textos estarão disponíveis em breve neste blog.







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